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A americana Valerie Hellermann, 66, têm um longo histórico de trabalho voluntário. Atuou em campos de refugiados durante muitos anos. Em 2014, já atuava há alguns anos com a comunidade tibetana na Índia através do Tibetan Children’s Education Foundation, quando foi convidada pelo Lama Geshe Yonten, para iniciar um projeto de atendimento médico em Padum – vilarejo extremamente remoto –, capital administrativa da região de Zanskar, no estado da Caxemira, no extremo norte da Índia. O próprio Dalai Lama estava na região e visitou os voluntários na ocasião, onde presenciou a importância do trabalho realizado para a melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Uma lugar tão remoto e que fica isolado tanto tempo por ano, precisava urgentemente de um centro de saúde que pudesse oferecer amparo à essa população desassistida. E foi durante um encontro com Valerie e sua equipe, que Sua Santidade fez um pedido enfático e irrecusável ao grupo: “Vocês têm que dar continuidade a este trabalho” – disse ele.

Dois anos depois, em junho de 2016, era inaugurado o Sowa Rigpa (Dalai Lama Hospital). Construído com recursos do The Dalai Lama Fund, o hospital foi criado para tratar pacientes, tanto com medicina alopática ocidental, quanto com a medicina tradicional tibetana – através de atendimentos em conjunto com amchis (curandeiros locais que praticam a antiga medicina tradicional tibetana, com tratamentos que passam, principalmente, por infusões de ervas, entre outros métodos).

Hoje, Valerie é a coordenadora da Hands On Global, ONG dedicada única e exclusivamente às atividades médicas de voluntariado ligadas ao hospital de Zanskar. Gerenciar esse programa é sua vida.

E foi com essa mesma dedicação e empenho, que Valerie convidou e recebeu nosso grupo do Dharma, para realizar um trabalho em conjunto, em julho de 2017. Ao todo éramos 11 voluntários brasileiros que se somaram a uma equipe de 14 americanos. Karina coordenou a parte médica do nosso time, que contava com duas médicas de emergência, uma ginecologista, uma pediatra, duas fisioterapeutas, um cardiologista, um psicólogo, além de um cinegrafista e um fotógrafo. Em cinco dias de atendimento, foram atendidos mais de 700 pacientes, dentre estes alguns casos de emergência, onde ter uma equipe especializada presente, literalmente salvou vidas.

Refúgio de uma população de maioria tibetana – exilados desde a invasão chinesa em 1950 – seus moradores vivem isolados do mundo. Não só pela dificuldade geográfica de acesso ao local, mas também pelas condições climáticas: o inverno rigoroso na região, fecha as passagens altas das montanhas, fazendo com que Zanskar fique isolada 9 meses por ano. Ninguém entre e ninguém sai de lá. As únicas formas de acesso são, a pé (uma caminhada de mais de 100 quilômetros, que segue pelo leito congelado do Rio Zanskar, numa trilha perigosa e com temperaturas abaixo de zero), ou de helicóptero – que na prática, não acontece, por lá ser uma zona militarizada. Essa soma de fatores faz com que o acesso ao atendimento médico a essa população quase inexista.

Ao término do nosso trabalho, tivemos a honra de sermos recebidos por Sua Santidade, o Dalai Lama, em sua residência de Leh. Ele agradeceu ao nosso grupo pelo trabalho realizado em Zanskar e falou sobre a importância do trabalho voluntário, especialmente quando desprovido de interesse, só por compaixão. Sobre como isso tem um grande poder de transformação sobre o estado mental de cada um. Falou como o ato de ajudar alguém, muitas vezes, já é a própria recompensa. Em 2018 voltaremos para Zanskar para dar continuidade ao trabalho junto a esta comunidade tão necessitada.