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Este foi o projeto inicial – e despretensioso – que acabou dando origem, mais tarde, à criação do Instituto Dharma. Logo após o terremoto que destruiu grande parte do Nepal e da Índia, em abril de 2015, os amigos Karina Oliani e Andrei Polessi se uniram em torno de uma ideia simples: publicar um livro de fotos (com imagens que tinham feito naquela região entre 2007 e 2013), e reverter 100% da renda para a construção de uma escola para as crianças vítimas da tragédia, no Vale de Patle, no Nepal. Através de um crowdfunding, não só conseguiram levantar a quantia necessária para a obra (US$5 mil), como dobraram o valor doado (totalizando US$10 mil), entregue diretamente para os líderes comunitários de Patle.

POR QUE PATLE?

Desde 2013, quando escalou o Everest pela primeira vez pela face sul, Karina quis de alguma maneira retribuir o companheirismo e a hospitalidade do povo local. Os Sherpas – etnia que vive naquela região – são responsáveis por 90% do trabalho duro de todas as expedições de alta montanha no Vale do Khumbu. Eles são os verdadeiros heróis dos Himalaias e sem eles, dificilmente alguma expedição conseguiria ter êxito. Não só são exímios carregadores – completamente aclimatados à altitude e ao ar rarefeito – mas também experientes guias. Ajudar a vila de seu companheiro de escaladas Pemba Sherpa, foi portanto, uma decisão óbvia: além de conhecer muito bem Pemba – e de saber de sua honestidade e seriedade – Karina sabia que seu vilarejo, Patle, era uma localidade muito carente em vários aspectos. Em 2014 ela já tinha financiado, com recursos próprios, algumas obras de melhorias e de saneamento básico na localidade, levando água encanada e construindo banheiros para a comunidade.

DESAFIOS. SEMPRE OS DESAFIOS.

Desde agosto de 2015 o governo do Nepal mudou as regras de obtenção de licenças para construções no país (provavelmente pelo aumento de entrada de capital estrangeiro de ajuda à localidade), o que dificultou todo processo de obtenção de licenças para a escola, gerando uma carga de burocracia gigantesca. Por isso não conseguimos manter as obras dentro do cronograma inicial proposto – que era ter a construção pronta até final de fevereiro de 2016.

Num certo momento, tudo saiu do controle: a compra do terreno, o projeto, as permissões do governo, a burocracia pro envio dos recursos, as intempéries da natureza. Só uma coisa ficou inabalada: nosso compromisso e a certeza de que a escola iria sair do papel.

E graças o trabalho incansável de Pemba, depois de 1 ano de trabalho, a nossa escola ficou pronta (um atraso de mais de 8 meses das nossas previsões iniciais). Mas saber lidar com esses percalços e perseverar, insistir, acreditar, é também o que nos ensinou o povo do Nepal, que aos poucos, reconstrói o país inteiro. A resiliência é uma virtude, que nós também pudemos exercitar. Então, como não agradecer a essas dificuldades todas, se só nos ajudaram a crescer?

A NOVA ESCOLA.

A construção foi executada no sistema de mutirão pelos próprios moradores da comunidade. Até grande parte dos materiais, como madeira e pedras, foram coletadas ali mesmo nos arredores de Patle. A antiga escola de Patle ainda está de pé, mas teve sua estrutura condenada após o terremoto. Durante todo este tempo, as crianças tiveram aula a céu aberto. Durante os meses mais frios de inverno, em abrigos improvisados – e pouco eficientes – de madeira e lata. Isso explica a pouca frequência e o número reduzido de alunos: em 2016 tínhamos somente 30 crianças matriculadas. Após a inauguração da nova escola, em abril de 2017, esse número dobrou. Hoje, já são mais de 130 alunos matriculados.

Após ter conseguido levantar a escola com recursos próprios, Pemba acabou chamando a atenção do governo, que no início de 2017 liberou verbas para a construção de uma estrada que interligasse todo o vale. Isso trouxe, não só um maior acesso à escola, como possibilitou a conexão da Vila de Patle à outras localidades através de veículos 4×4 – o acesso até então só era feito em 1 semana de caminhada ou de hélicóptero.

UM NOVO FUTURO PARA PATLE.

educação é a base que pode construir um novo futuro para a população de Patle. Aprendendo inglês, matemática, ciências, entre outras matérias, as crianças terão a chance de escolher outras profissões – que não somente a de carregador ou a arriscada profissão de guia de montanha. Poderão ser engenheiros, professores, médicos e o que mais quiserem. Poderão mudar seu destino, proporcionando um melhor bem-estar social para suas famílias e para as próximas gerações. E os que ainda quiserem seguir como carregadores, o farão por escolha, não por falta dela.